HISTORIA DE UMA VIDA

Texto: T.M. - Tato.


Tales Matheus, esse é o meu nome e eu sou mais um adicto em recuperação. Na minha infância ocorreram muitos fatos que ajudaram a desenvolver comportamentos que me levaram ao uso. Desde pequeno não gostava de estudar, nem de fazer o que minha mãe ou minha família me pediam, questionava, brigava, chorava e era rebelde. Fazia de tudo para conseguir o que queria e na hora que queria. Experimentei o álcool muito cedo, antes mesmo de minha adolescência. Aos nove anos de idade via meus tios e familiares consumindo bebidas alcoólicas com naturalidade, e perguntava sempre o porquê de eu não poder consumir. Na maioria das vezes não obtinha respostas que me convencessem. Sempre andei com pessoas mais velhas que eu, então comecei a reparar que eles também consumiam as bebidas mesmo sendo menores de idade. A minha curiosidade me fez experimentar, e com o tempo aquilo foi se tornando algo natural, sempre inventando meios de que minha família não soubesse. Aos onze anos tive meu primeiro contato com cigarro (Droga que até os dias atuais faço o uso) e logo em seguida conheci a maconha. Meu relacionamento com a droga começou de forma estranha e sem querer. Experimentei a maconha apenas para saber como era a sensação, ainda me lembro de um trecho de musica no qual me identifico, era algo mais ou menos assim; “Primeira vez outra sensação, segunda vez um barato, ilusão”. Uma ilusão inexplicável me sentia mais leve, esquecia meus problemas, me sentia incluso em um grupo de amigos com uma ideologia diferente de vida e de como as coisas eram. Um ano depois conheci a cocaína, Foi ai que tudo começou a fugir do controle. Aquela época eu ainda consumia álcool e cocaína apenas em festas, mais não durou muito tempo, o uso começou a se tornar mais freqüente. Aquela fissura, aquela vontade de usar só mais um pouco, aquela vontade de fugir da realidade, eu me sentia um Super-Homem. Nada podia me abalar, comecei a utilizar grandes quantidades de álcool em bares, jogando truco e sinuca com os mais velhos e a usar grandes quantidades de cocaína. Cem reais por dia era o mínimo gasto, os ‘amigos’ sempre interavam e ajudavam a repartir as contas. Aos quinze anos comecei a trabalhar, ganhava um salário mínimo e minha mãe não me dava mais dinheiro. Dividas atrás de dividas, comecei a ver que o que eu ganhava não dava para sustentar a droga, o álcool, o cigarro e as coisas que eu queria ter. Resolvi então parar com tudo, com determinação e substituindo a droga por comida e namoradas, consegui ficar um ano sem o uso, então comecei a ser compulsivo por tudo que fazia, compulsivo por mulheres, jogos, chocolates e etc. Aos dezesseis anos conheci uma garota, ela tinha dezoito anos e fazia uso de álcool e maconha. Comecei a me relacionar com ela e fazer uso das substancias novamente. Mas ao primeiro copo de álcool perdi novamente o controle, comecei a usar tudo compulsivamente e pior do que antes de parar. Chegava bêbado todo o dia em casa, perdi o emprego e reprovei na escola. Voltei ao uso da cocaína, comecei a fazer ‘aviõezinhos’ e ganhar um dinheiro. O vicio era maior do que eu, não conseguia passar um dia sem o uso. Então minha família resolveu intervir, conversaram comigo e me internaram pela primeira vez. Mesmo internado meus pensamentos bloqueavam qualquer informação e o método de tratamento não me davam esperança de uma vida melhor. Após seis meses em uma clinica voltei para a casa. Comecei a freqüentar um grupo de apoio mais não durou muito tempo, voltei a ter os mesmos comportamentos e amizades do passado. Dois anos sem uso de substancias achava que já podia voltar a fazer uso do álcool e da maconha, novamente errei no mesmo erro, fui insano e voltei a usar cocaína. Seis meses de uso e eu destrui tudo aquilo que eu havia reconstruído, novamente me descontrolei e comecei a traficar. Comecei a ficar devendo para traficantes, e estava jurado de morte por brigas e pichação. Novamente minha família decidiu intervir e me levou para uma instituição. No começo não aceitei o tratamento, mais o modo como conduziam a terapia e passavam segurança comecei a ceder. Aprendi que eu tinha uma doença chamada adicção, que ela pode ser estacionada, e que eu posso ter uma vida melhor e saudável. Aprendi ferramentas para me ajudar quando der vontade de fazer o uso, aprendi que não estou sozinho, aprendi a pedir ajuda e como viver sem drogas. Hoje eu tenho amigos que me ajudam, que me ensinam, que me direcionam para o futuro. Hoje tenho qualidade de vida, e só por hoje não usei, e sem chance alguma de eu usar. Só por hoje sou grato por terem me acolhido, e por me salvarem das garras das drogas.

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