Perigo para elas
Estudos sobre as diferenças entre os gêneros têm mostrado que mulheres podem ser mais vulneráveis à dependência e ao abuso de substâncias químicas que os homens: o fascínio por álcool, drogas e cigarros flui à mercê dos hormônios |
© Murray Kimber/ Ilustration work/Getty Images |
Em uma inversão das tendências predominantes no passado, adolescentes estão agora experimentando maconha, álcool e cigarros em índices mais elevados que os garotos, de acordo com os recentes resultados de uma pesquisa realizada pelo National Survey on Drug Use and Health (NSDUH), nos Estados Unidos. O estudo mostra que o uso geral de drogas ilícitas entre as moças aumentou em torno de 6% em 2007 e 2008, enquanto o índice para os jovens do sexo masculino caiu cerca de 10%.
Além disso, uma literatura cada vez mais consistente sobre a dependência do sexo feminino mostra que as mulheres apresentam características bastante específicas. De forma singular, elas podem ser particularmente vulneráveis ao uso de substâncias que criam dependência e aos seus efeitos, pois os hormônios sexuais femininos afetam diretamente os circuitos de recompensa do cérebro, influenciando a resposta a drogas. Felizmente, alguns estudos já apontam para novos tratamentos para a toxicomania, além de fornecer informações práticas para as pessoas empenhadas em abandonar o uso.
Embora os cientistas venham investigando, ainda que em pequena escala, o uso de drogas em mulheres desde a década de 70, os progressos foram relativamente lentos antes de 1994, quando os Institutos Nacionais de Saúde americanos determinaram que a maioria das pesquisas clínicas incluísse mulheres e grupos formados por minorias. Conforme o estudo sobre as diferenças entre os gêneros se acelerou, cientistas descobriram indícios de que mulheres podem realmente ser mais vulneráveis à dependência e ao abuso de substâncias que os homens. Os pesquisadores notaram que elas passam de forma mais rápida para o uso de substâncias pesadas e têm maior facilidade de sucumbir aos danos sociais e físicos. Até mesmo as fêmeas de ratos costumam buscar e autoadministrar drogas que provocam dependência de maneira mais obsessiva e mais rapidamente que os roedores machos.
Os hormônios da reprodução estão por trás dessa sensibilidade. A remoção de ovários das ratas, de modo a lhes diminuir a produção de estrogênio, reduziu a tendência de procurarem estimulantes, como a cocaína e a anfetamina. Por outro lado, o fornecimento de estrogênio para ratas cujos ovários foram retirados pode encurtar o caminho para a dependência. Em 2004, a neurocientista Jill B. Becker, da Universidade de Michigan em Ann Arbor, e seus colegas relataram que as fêmeas de camundongos sem ovário levaram seis dias para começar a se servir repetidamente de infusões de cocaína, enfiando o focinho em um buraco. Em contraste, as que receberam suplementação do hormônio sucumbiram à mesma compulsão após quatro dias apenas.
Os pesquisadores acreditam que o estrogênio aumenta o risco de dependência por estimular as vias de recompensa do cérebro, enfatizando a sensação prazerosa produzida pela alteração dos estados de consciência. A administração de estrogênio às ratas que tiveram seus ovários removidos aumenta os níveis de dopamina, um neurotransmissor fundamental para a percepção de recompensas, como comida, sexo e drogas.
Os hormônios da reprodução estão por trás dessa sensibilidade. A remoção de ovários das ratas, de modo a lhes diminuir a produção de estrogênio, reduziu a tendência de procurarem estimulantes, como a cocaína e a anfetamina. Por outro lado, o fornecimento de estrogênio para ratas cujos ovários foram retirados pode encurtar o caminho para a dependência. Em 2004, a neurocientista Jill B. Becker, da Universidade de Michigan em Ann Arbor, e seus colegas relataram que as fêmeas de camundongos sem ovário levaram seis dias para começar a se servir repetidamente de infusões de cocaína, enfiando o focinho em um buraco. Em contraste, as que receberam suplementação do hormônio sucumbiram à mesma compulsão após quatro dias apenas.
Os pesquisadores acreditam que o estrogênio aumenta o risco de dependência por estimular as vias de recompensa do cérebro, enfatizando a sensação prazerosa produzida pela alteração dos estados de consciência. A administração de estrogênio às ratas que tiveram seus ovários removidos aumenta os níveis de dopamina, um neurotransmissor fundamental para a percepção de recompensas, como comida, sexo e drogas.
© Divulgação |
BEM-SUDECIDA E ALCÓOLATRA em 28 dias, a atriz Sandra Bullock vive uma jornalista que é obrigada a se internar em uma clínica de reabilitação |
Um trabalho mais recente confirma que a resposta das mulheres a drogas varia no decorrer do ciclo menstrual, conforme os níveis hormonais relativos aumentam e diminuem naturalmente. Em um estudo clínico de 2007, a neurobióloga Suzette M. Evans, da Universidade Columbia e do Instituto Psiquiatrico do Estado de Nova York, coordenou uma equipe que descobriu que os estimulantes são muito mais prazerosos para as mulheres durante a fase folicular (período de aproximadamente duas semanas, a contar do início da menstruação até próxima a ovulação, quando o organismo “se prepara” para uma possível gravidez), em comparação com a chamada fase lútea (etapa seguinte do ciclo, após a ovulação, quando o estrogênio e a progesterona estão elevados).
A percepção da mulher quanto a outros tipos de recompensas – como dinheiro, comida e sexo – e sua relação de desejo, indiferença ou aversão a eles também pode variar durante o ciclo menstrual. Em outro estudo realizado nos Institutos Nacionais de Saúde americanos, há três anos, pesquisadores examinaram o cérebro de mulheres por meio de ressonância magnética funcional (RMf) enquanto elas faziam apostas em máquinas caça-níqueis. Os cientistas descobriram que os circuitos de recompensa das mulheres ficavam mais ativos quando ganhavam prêmios durante a fase de predomínio de estrogênio que durante a fase que se segue, dominada pela progesterona. Ou seja: o fluxo e o refluxo dos hormônios femininos podem realmente ter amplos efeitos sobre a percepção de prazeres e incentivos, influenciando a motivação feminina para se envolver em situações que, em outros momentos, não as atrairia.
© Linda Mattson/Fotolia |
PREDOMÍNIO DE ESTROGÊNIO: ao ganhar a aposta em um caça-níqueis, durante o período menstrual, circuitos de recompensa ficam mais ativos |
Mas os cientistas sabem que o desafio é complexo. Se não fosse pela compulsão pela dose da substância química, bastaria prestar atenção ao calendário para ajudar as mulheres a ter sucesso na desistência do fumo, das bebidas ou das drogas. Em um estudo publicado em 2008, a médica Sharon S. Allen, especializada em medicina familiar pela Escola Médica da Universidade de Minnesota, e seus colegas pediram a um grupo de 202 mulheres fumantes que a metade tentasse parar com o cigarro durante a segunda fase de seu ciclo menstrual, quando os níveis de progesterona são altos, e que a outra metade fizesse a tentativa em fase anterior ao ciclo. Os resultados foram impressionantes: 34% das mulheres do primeiro grupo não voltadoram a fumar 30 dias depois, em comparação com 14% das que tentaram parar quando os níveis de progesterona estavam baixos. “Quando as mulheres fumam no início de seu ciclo, obtêm mais prazer com a nicotina, por isso pode ser mais difícil enfrentar o desafio de deixar o cigarro”, observa Allen. Nessa mescla de hormônios, substâncias químicas do cérebro e compulsão – além de questões emocionais e psíquicas que nem sempre têm como ser mensuradas –, começar ou parar na hora certa pode fazer grande diferença na história de vida de alguém.
CONSCIÊNCIA ALTERADA
O consumo de algumas drogas – conhecidas como psicodélicas ou alucinógenas, como o LSD, a cocaína e o crack – altera profundamente a percepção e a consciência dos estímulos internos e ambientais. Essas substâncias podem estar em plantas, produtos de origem animal ou compostos sintéticos. Sua ação sobre o sistema nervoso central causa três efeitos principais: delírio, ilusão e alucinação. O primeiro ocorre quando a pessoa percebe corretamente um estímulo (sonoro, visual e tátil), mas o interpreta erradamente, ou seja, tem uma percepção anormal dessa fonte. Exemplo: alguém sob o efeito de uma droga ouve a sirene de uma ambulância (percepção correta). Ou ainda: o usuário, ao ver duas pessoas conversando, julga que ambas o estão caluniando ou mesmo tramando a sua morte. Esses são exemplos de delírios persecutórios: o usuário percebe corretamente o estímulo, mas o interpreta de forma equivocada quando sob influência de um psicodisléptico. No caso da ilusão, a percepção de um dado estímulo fica incorreta, e a interpretação dele também é anormal. Em última análise, na ilusão o estímulo é percebido, mas a percepção é distorcida: no caso da sirene a pessoa diz ouvir, por exemplo, uma trombeta celeste. Já a alucinação é uma percepção sem estímulo algum (no exemplo, não há sirene tocando), mas o usuário tem certeza de que a ouve. As alucinações podem ser sonoras, visuais e gustativas, entre outras. Às vezes a pessoa tem a alteração, isto é, ouve o som ou vê algo inexistente, mas sabe que essas percepções não são reais. Nesses casos, o fenômeno pode ser chamado de alucinose, diferindo daqueles em que o usuário acredita que a percepção é real (alucinação) – isto é, que ela existe mesmo.
O consumo de algumas drogas – conhecidas como psicodélicas ou alucinógenas, como o LSD, a cocaína e o crack – altera profundamente a percepção e a consciência dos estímulos internos e ambientais. Essas substâncias podem estar em plantas, produtos de origem animal ou compostos sintéticos. Sua ação sobre o sistema nervoso central causa três efeitos principais: delírio, ilusão e alucinação. O primeiro ocorre quando a pessoa percebe corretamente um estímulo (sonoro, visual e tátil), mas o interpreta erradamente, ou seja, tem uma percepção anormal dessa fonte. Exemplo: alguém sob o efeito de uma droga ouve a sirene de uma ambulância (percepção correta). Ou ainda: o usuário, ao ver duas pessoas conversando, julga que ambas o estão caluniando ou mesmo tramando a sua morte. Esses são exemplos de delírios persecutórios: o usuário percebe corretamente o estímulo, mas o interpreta de forma equivocada quando sob influência de um psicodisléptico. No caso da ilusão, a percepção de um dado estímulo fica incorreta, e a interpretação dele também é anormal. Em última análise, na ilusão o estímulo é percebido, mas a percepção é distorcida: no caso da sirene a pessoa diz ouvir, por exemplo, uma trombeta celeste. Já a alucinação é uma percepção sem estímulo algum (no exemplo, não há sirene tocando), mas o usuário tem certeza de que a ouve. As alucinações podem ser sonoras, visuais e gustativas, entre outras. Às vezes a pessoa tem a alteração, isto é, ouve o som ou vê algo inexistente, mas sabe que essas percepções não são reais. Nesses casos, o fenômeno pode ser chamado de alucinose, diferindo daqueles em que o usuário acredita que a percepção é real (alucinação) – isto é, que ela existe mesmo.
fonte: uol.com.br/vivermente/reportagens/perigo_para_elas.html
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