CO-DEPENDÊNCIA - PREVENIR É O MELHOR CAMINHO
Co-dependência, é um quadro caracterizado por um distúrbio mental acompanhado de
ansiedade, angustia e uma compulsividades obsessiva em relação a tudo o que envolve
a vida do dependente. O co-dependente deixa de viver sua própria vida e passa a
viver na dependência dos acontecimentos que ocorrem na vida de dependente
químico (em especifico).
Os co-dependentes nunca sabem o que
esperar, constantemente são bombardeados com problemas, perdas e mudanças.
Temos vivenciado o sentimento de
co-dependência em nossas próprias vidas. Muitas vezes erramos, pensamos que
estamos fazendo aquilo que deveria ser certo. Nos enganamos com manobras de
“facilitação”, minimizando, controlando, protegendo, assumindo
responsabilidades e compactuando com nossos filhos. Mas com o passar do tempo
temos aprendido que nem toda ajuda vai colaborar positivamente para um sucesso terapêutico.
É muito difícil, saber quando ajudar e quando deixar de ajudar. Deixar de
ajudar é muito difícil, pois envolve sentimentos conflitantes de medo e de culpa.
Tornamo-nos escravos do dependente, tudo que ele faz de errado nos afeta e seus
efeitos são potencializados em nós. Estamos constantemente ansiosos e
angustiados, com sentimentos de culpa e raiva.
Somos aqueles que sofremos juntamente
com o dependente, mas não temos o prazer efêmero da droga. Enquanto o
dependente é viciado na “droga”, o co-dependente é viciado nos problemas do
dependente.
Facilitação
é toda atitude que tomamos e que irá colaborar com a continuação da dependência
química. As atitudes de facilitação são:
·
Minimização
(minimiza as atitudes e o uso).
·
Controlar
(tenta controlar a vida do dependente ou até mesmo o uso).
·
Proteger
(Defende quando outros falam sobre ele, vai buscar droga para que ele fique
perto, ou paga as cobranças na porta de casa).
·
Assumir
responsabilidades (Quer cuidar e assumir toda irresponsabilidade causada pelo
uso).
·
Compactuar
(Dar dinheiro e aceitar que use a droga dentro de casa).
“Era uma sexta feira de madrugada, o
telefone tocou, e ao atender uma pessoa se identificou como tio de um amigo do
filho e disse: O meu sobrinho está preso juntamente com seu filho; os dois
foram presos, houve uma diligencia policial e a P.M. encontrou drogas no carro.
A quantia encontrada era suficiente para enquadra-los por trafico. À medida que
ia tomando conhecimento dos fatos, o coração ia disparando, a pressão subindo e
um sentimento de ansiedade e angustia ia tomando controle. (meu Deus, meu filho
preso!) Vou ter que ir a delegacia? Esse tio dissera conhecer pessoas dessa
delegacia e que para atenuar a gravidade seriam necessários alguns acertos. O
acerto seria de seis mil reais e cada um daria metade. E assim foi feito. Na
ocasião, o filho contou outra história, dizendo que a policia havia plantado a
droga no carro e que ele não era usuário. Nessa época, não tinha certeza do
envolvimento dele com drogas. Também não tinha nenhum conhecimento sobre a
dependência química. Aceitei a explicação e acreditei que sua historia fosse
verdadeira”. Nesse período, ele fazia terapia semanalmente. Tinha seu
rendimento escolar, apresentava mudança de comportamento, seu estilo de roupas
mudou cabelos compridos e saía a noite com frequência.
Desse
episodio da prisão até realmente eu ter certeza da dependência química
decorreram alguns meses. Minimizar a gravidade dos fatos, tentar proteger,
assumir responsabilidades, isso é a fase da NEGAÇÃO.
CLASSIFICAMOS AS FASES DA
CO-DEPENDÊNCIA EM CINCO FASES:
·
NEGAÇÃO
·
DEPRESSÃO
·
NEGOCIAÇÃO
OU BARGANHA
·
RAIVA
·
ACEITAÇÃO
Vivenciar todas as fases leva anos até
que se chegue à aceitação. A depressão é uma fase companheira em todo o
processo. Diversos são os momentos de tristeza, como quando levar o dependente
químico para uma primeira internação. Um sentimento terrível, vontade de
chorar, de gritar e uma sensação de que falta o chão. Um sentimento de
fracasso, de culpa. Um sentimento de impotência toma conta. Oh! Meu Deus o que
esta acontecendo com a minha família. Não da pra descrever a dor. Machuca a
alma. A alegria de viver parece ter acabado. Tudo é triste. Fica-se assim por
muitos dias.
Mas
infelizmente, isso é só o começo da historia. Términos precipitados de
tratamentos, fugas e recaídas. Passamos a viver totalmente ligados a tudo que
acontecia na vida do dependente químico. Largava tudo que estava fazendo para
atender emergências criadas pelo dependente químico. Às vezes parecia que não
havia espaço para mais nada e as coisas só pioravam. Só que não sabemos que
também precisamos de ajuda. Sentimentos de raiva e culpa. Não somos mais
compreendidos por ninguém. E ninguém mais tolerava. A vida, os assuntos, o
cotidiano passam a ser uma atitude cada vez mais compulsiva e obsessiva e tudo
se relaciona com este processo de tratamento. Isso pode perdurar por vários
anos.
O
co-dependente passa essas fases de negação, depressão, negociação, raiva tudo
ao mesmo tempo. Em um mesmo dia você pode estar “rodando” e sua cabeça
“girando”, passando da depressão para a raiva. É uma verdadeira paranoia.
Quantas vezes tentamos negociar com Deus. “prometemos que se tirar o dependente
das drogas, seriamos melhor; nos envolvemos mais com coisas de igrejas,
procuramos ser mais fiel no dizimo, ser mais presente etc. Tudo isso parece ser
muito infantil, mas é assim que o co-dependente de fato é.
À
medida que o sentimento de culpa aumenta, o sentimento de raiva começa a
explodir. Como nos sentimos que o mundo nos culpa e passamos também a todos
pela situação. Cônjuge, igreja, escola e até os amigos de nossos filhos. É
difícil saber lidar com a culpa que a co dependência toma. E toda atitude que o
co dependente toma, acompanhada de sentimento de culpa, com certeza se torna
uma atitude de facilitação.
Viver
com a co-dependência sem ter conhecimento do que esta acontecendo, não saber o
que é certo ou errado, agir conforme o sentimento de “salvador da pátria”,
mandar fazer porque acha que é preciso ou que só você poderá fazer.
OS OBJETIVOS DO PROGRAMA DE
TRATAMENTO DA CO-DEPENDÊNCIA SÃO:
1. TERMINAR COM AS ATITUDES DE
FACILITAÇÃO.
2. FORNECER CONHECIMENTOS SOBRE
DEPENDÊNCIA QUÍMICA.
3. PREVENIR RECAÍDAS QUANTO Á
FACILITAÇÃO.
4. ACOMPANHAR A FAMÍLIA DURANTE A
INTERNAÇÃO E APÓS O TERMINO, AJUDANDO NA RESSOCIALIZAÇÃO DO DEPENDENTE QUÍMICO.
Sempre questiono quando cada pessoa
da família está disposta a mudar e adotar novas atitudes. Achamos que quem tem
que mudar é o dependente e não nós acabamos por muitas vezes cobrar isso
excessivamente. Mas na dinâmica do relacionamento familiar as coisas funcionam
em dependência. Todos necessitamos de mudanças completas, todos necessitamos de
ajuda. Precisamos todos caminhar num processo de restauração. (grupo de auto
ajuda nesta etapa são fundamentais para ambos). Desta forma conseguem
administrar melhor sua co-dependência e começa a adotar atitudes acompanhadas
de forma terapêutica mais correta, contribuindo decisivamente para o sucesso do
tratamento do dependente químico. Infelizmente, uma porcentagem significativa
de co dependentes é totalmente paranoica, sem ajuda terapêutica atrapalha todo
o processo do tratamento do dependente químico. Mas o pior tipo de co
dependente é aquele que não participa de grupos de apoio ou acompanhamento
terapêutico durante a internação. Em casos assim a família só atrapalha. É
necessário saber lidar com a culpa. Enquanto ela for à base de atitudes se tornam
atitudes de facilitação e fases de co dependência. A culpa é um sentimento
doentio, tornando o fardo mais pesado e tirando a racionalidade. Sentir-se
culpado por achar que falhou no papel de pai ou de mãe, sentir-se culpado
porque a sociedade, família ou igreja só aumenta esse fardo. Sentir-se culpado
não ajuda em nada; precisa fazer uma analise de todos esses sentimentos e
assumir um papel positivo de responsabilidade. À medida que questionamos o porquê
de cada atitude, começamos a adotar atitudes que levam a um resultado positivo.
O importante dessas atitudes é que começamos a sentir um pouco mais de paz. O
fardo se torna mais leve.
É
errado querer ajudar quando:
1. A ajuda é levada a extremo, de
maneira compulsiva e de modo a piorar o problema.
2. Perpetuar a dependência.
3. Ser conivente e manter a
irresponsabilidade do dependente.
Se persistirmos nesta
ajuda ineficaz poderemos causar efeitos devastadores, como: morte por overdose,
homicídio, suicídio ou acidentes automobilísticos entre outros.
No convívio com muitos
co dependentes, tenho visto que alguns necessitam de um pronto socorro, de
ajuda imediata (terapeutas ou psicólogos), porque estão caminhando para uma
estrada cada vez mais acidentada. Um bom terapeuta poderá ser uma ajuda
fundamental no processo de restauração familiar. A estrutura da família fica
fragilizada e frente a essa problemática muitas das vezes acaba com divórcios e
desestruturação de toda a família.
Muitas das vezes uma
recaída é causada pela culpa que o dependente químico sente em ter causado em
toda família e é preciso saber que todos terão que administrar cada qual seu
estado emocional, pois do contrario o dependente acaba em depressão e
posteriormente uma recaída é inevitável.
Talvez a perda mais
dolorosa que temos seja a perda dos sonhos. Das esperanças. Sonhamos e criamos
esperanças em nossos filhos, visualizando uma vida cheia de sucesso e
felicidade em sua vida. Com certeza a droga não fazia parte desse sonho e que
acabou por se tornar pesadelo. Um autor escreveu que a doença, independente de
qual seja é mortal. Mata tudo, inclusive os sonhos mais nobres. Ela destrói
vagarosamente e nada morre mais lentamente que um sonho. Mas há esperança, no
caminhar de nossa co-dependência precisamos chegar a fase da aceitação. Em
primeiro lugar, temos que aceitar a nós mesmos. Precisamos aceitar nossas
falhas e duvidas além da falta de autoestima. Temos que trabalhar o processo do
perdão e posteriormente da cura. Tudo isso não é muito confortável.
Co-dependentes são
oprimidos, deprimidos e reprimidos. Passam a vida tentando ajudar as emoções
dos outros, mas não sabemos o que fazer para consertar a própria vida.
A dor emocional e a
raiva podem evoluir para um sentimento de ressentimento e amargura, a tristeza
pode transformar em depressão.
Alguns Co-dependentes
acreditam que não podem que não devem e que não merecem ser felizes. Não é
errado sentir tristeza. Deixe essa energia passar e procure paz e equilíbrio
interior.
A depressão é um
sentimento que precisa estar alerta para detectar. Todos nós passamos por ela, mas muitos permanecem nela,
e ela pode levar a um fundo de poço. Cada um tem que estar alerta para saber a
intensidade e a gravidade da depressão. Precisamos saber avaliar a necessidade,
ou não, de uma psicoterapia medicamentosa, ou não.
Na realidade, todos
deveriam passar por acompanhamento profissional experiente. Precisamos ser
restaurados em todos os aspectos da nossa saúde, seja orgânica, psíquica ou
espiritual.
Ao mesmo tempo em que o
dependente químico está passando por um processo de recuperação, o
co-dependente também deve ser beneficiado por um processo semelhante.
É muito comum encontrar
pais que dizem: “meu filho está voltando para casa na próxima semana e gostaria
de saber o que devo fazer”. Só que talvez nunca tenha aparecido nas reuniões
dos grupos de apoio. Que repostar dar? Ele não sabe nada sobe co-dependência;
não foi tratado; não procurou ajuda para ele mesmo. Consequentemente “esse pai
ou mãe” com a volta do filho pra casa tudo pode voltar como antes. As atitudes
de facilitação (minimizar, controlar, proteger, assumir responsabilidades e
compactuar) e as fases da co-dependência (negação, negociação, raiva e
aceitação) estarão presentes de maneira não saudável.
Co-dependentes passam
muito tempo tomando conta da vida do dependente e não ajudando e procurando
ajuda para ele mesmo. Tomar conta não ajuda, mas causa problemas. Sempre
procurar dar mais do que recebe e depois sentem-se explorados.
Tomar conta gera raiva.
Pode tornar pessoas insatisfeitas, frustradas e confusas. As pessoas que são
ajudadas se tornam vítimas desamparadas e raivosas; e quem toma conta se tornam
vítimas.
Quem toma conta às
vezes se confundem com dar, amar e ajudar. Dar é uma qualidade desejável; o que
não significa se dar até doer.
Deus quer que nos
ajudemos e compartilhemos nosso tempo, dons e dinheiro, mas o ato de bondade só
é bom quando nos sentimos bem em relação a nós mesmos.
Dar é parte essencial
de uma vida saudável, como também saber quando não dar. Precisamos aprender a
vivenciar um relacionamento mais saudável, aprendendo a distinguir pessoas que
se aproveitam de nós para fugir das próprias responsabilidades e com isso nos
magoa.
É muito importante que
o co-dependente, tenha sabedoria para observar como está o seu caminhar, se
suas atitudes ainda são de facilitador e, o mais importante, em que fase
encontra sua co-dependência.
Não deixe a raiva
fortalecer-se trazendo um desastre irreversível e também saiba administrar
melhor a sua depressão. Se necessário procure um terapeuta.
Analise junto ao
terapeuta se você está tomando conta, perseguindo ou está se colocando como
vítima. Com o passar do tempo poderá administrar isso melhor.
Uma vida mais saudável
e a paz passará a estar presente em você. A alegria de viver, a volta do
prazer, o sorriso e o amor voltarão. Você notará que as flores e sempre
estiveram presentes em seu jardim derramando o mesmo perfume que você sentia a
outrora.
O co-dependente merece
viver bem Deus nos ama a todos, ame a si próprio só assim poderá amar outras
pessoas de maneira saudável. Este relacionamento puro e honesto sem
manipulações será terapêutico e o processo de estabilidade irá dia após dia
restaurar a própria vida e a do dependente químico que tanto ama.
Tenho uma firme
convicção de que esta é a finalidade de tratar com a co-dependência.
Bibliografia: Drogas e
Álcool Prevenção e Tratamento do Centro de Formação do FEBRACT. (Dr. Luiz Ossamu Sanda – Medico)
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