Solidão: entenda seus impactos na saúde emocional

Escrito por Raquel Baldo

 


Psicologia – CRP 79518/SP

 
 

Sentir-se sozinho, mesmo estando acompanhado, pode acarretar em diversos tipos de problemas.

Solidão, situação ou estado em que alguém encontra só ou desacompanhado. Palavra forte e possivelmente geradora de angustias. Situação conhecida por historias, teorias ou talvez até mesmo sentida por quase todos nós em algum momento. Mas sempre que a ouço esta palavra ou por algum motivo me deparo com tal assunto acabo me questionando: “Que solidão é esta que está sendo dita? Sobre o que de fato esta solidão está falando?”
Solitário, só, desacompanhado, sumido, esquecido, isolado, recluso, não reconhecido, não pertencente, diferente, sem parceria, sem amor, inexistente… Essas palavras e tantas outras podem nos mostrar que a ideia ou a situação de solidão geralmente está acompanhada de outros significados.

Por que precisamos dos outros?

O ser humano é um ser que não vive saudavelmente ou muito tempo se estiver só. Isso porque, psicologicamente dependemos de um outro alguém e de um meio para que possamos nos entender e nos perceber. É mais fácil entender se prestarmos atenção na relação de um bebê com sua mãe. Quando ele nasce, pode chorar ou respirar, porém nada a mais irá acontecer se não tiver o suporte, o acolhimento e ensinamento de sua mãe (que irá acontecer de diferentes formas e por um bom tempo). A mãe irá ser e representar este novo ser humano durante muito tempo, mostrando a ele como é existir. Irá apresentar-lhe o que é fome, sono, dor, alegria, colo, frio, calor, sabores, regras, limites, trocas, elogios, pensamentos, suas particularidades…
Somos quem somos, como costumam dizer por aí, mas acrescento: somente somos porque existem outros em nossas vidas sendo eles e assim nos dando referência para o que queremos, podemos ou mesmo não devemos ou não gostamos. Somente podemos saber se somos bons ou maus ou se algo nos faz alegre ou triste, se ao menos uma vez tivermos essa experiência com outro alguém, pois se não houver quem me diga ou ensine se aquilo é bom ou ruim, aquilo na verdade é só uma coisa. Apesar de ser algo tão mais perceptível na infância, essa relação de necessidade com o meio e com o outro segue por toda a vida e por todas as idades, afinal estamos em aprendizado e vivencias continuas enquanto estamos vivos.
Assim, podemos facilmente compreender que quando uma pessoa possui restrição ou falta de convivência com outras pessoas, tende a ser um alguém desvitalizado, um alguém sem vida interior. Essas pessoas possuem angustias, muitas vezes desconhecidas por elas mesmas, pois como disse falta referência para saberem o que acontece com elas ou mesmo para perceberem o que sentem.

As consequências da solidão

Uma situação de solidão pode chegar a um estado crônico e gerar consigo diversos outros sintomas tanto psíquicos, como fisiológicos e sociais. Uma pessoa em situação de solidão é um ser que não é, ou seja, um ser que não existe no todo. É como se estivesse perdido dentro de si mesmo, esperando muitas vezes sem esperar concretamente o momento em que possa ser encontrado, por um alguém, por um olhar que cruze com o seu e o reconheça, o nomeie e lhe dê a chance de se perceber. Uma vez ouvi que o maior castigo para uma pessoa não era estar em uma prisão, mas sim em uma solitária. Pois na prisão ainda existe a presença de outros que geram raivas, medos, parcerias e historias, mas na solitária um homem não sabe se é dia ou noite, não sabe se sente fome ou sono, se deve ou não esperar algo, pois esquece se está vivo ou não!

Solidão em uma multidão…

Mas engana-se quem acredita que solidão só acontece para quem está desacompanhado. É muito comum as pessoas relatarem seus sentimentos solitários mesmo vivendo em sociedade, tendo e estando em família, sendo casado ou namorando, tendo grupos de amizades… O fato de estar acompanhado fisicamente por alguém ou mesmo cumprindo rituais sociais como ir a festas, baladas, almoço em família, ter irmãos, amigos, namorar não garante a uma pessoa que não fique ou esteja só, aliás esta é uma angústia muito frequente e mais comum do que se imagina e causadora de muitos conflitos.
Logo, podemos entender que a solidão existe devido à alguma outra situação de vida que a gere de forma concreta ou sentimentalmente e que portanto a solidão não costuma estar desacompanhada. Cada solidão possui uma parceria e entender a companhia ou a causa de cada solidão tende a ser o caminho para lidar com ela. Principalmente porque para isso alguém terá que olhar e terá que perceber aquele ser que está só.
Há pessoas que vivem só e não se sentem solitárias. Há pessoas que vivem cercadas de outras e sentem-se abandonadas, esquecidas e perdidas. Isso porque a solidão não deve ser entendida de forma tão limitada a estar ou não com alguém, é preciso abrir os olhos para entender que o sentimento em torno dela é muito mais subjetivo e particular do que técnico e teórico.

 

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