TRANSTORNOS ASSOCIADOS A DEPENDÊNCIA QUÍMICA-ESQUIZOFRENIA.
Fonte: Aconselhamento em dependência química. Lilian Ribeiro Caldas Ratto, Daniel Cruz Cordeiro.
Segundo a classificação estatística internacional de doenças - 10ª edição (CID-10), esse transtorno é caracterizado por distorções do pensamento e da percepção, sem mudanças do nível de consciência, e pela presença de afeto embotado ou inadequado. Inicialmente, não ocorrem alterações intelectuais, porém, estas podem surgir no decorrer da evolução da doença. apesar de nenhum dos sintomas ser patognomônico, é util dividi-los para fins diagnósticos.
- Irradiação, eco, inserção ou roubo do pensamento.
- Delírios de controle, influencia ou passividade, referidos ao corpo ou a movimentos dos membros, percepção delirante.
- Alucinações auditivas que comentam o comporto do paciente, que discutem entre si sobre ele ou outras vozes que vêm de alguma parte de seu corpo.
- Delírios persistentes que vão de encontro à cultura ou são completamente impossíveis, como identidade religiosa ou politica, habilidades ou poderes sobre-humanos.
- Alucinações persistentes de qualquer modalidade, quando acompanhadas de delírios sem conteúdo afetivo claro de ideias prevalentes persistentes.
- Interrupções ou interpolações no curso do pensamento, resultando em discursos incoerentes, irrelevantes ou neologismo.
- Comportamento catatônico, com negativismo, mutismo, estupor, excitação , postura inadequada, flexibilidade cérea.
- sintomas negativos, os quais podem ser pobreza de discurso, embotamento, apatia marcante ou respostas emocionais incongruentes, que geralmente evoluem para retraimento social e diminuição do desempenho social; tais sintomas não se devem a quadros depressivos ou ao uso de antipsicóticos.
- Alteração consistente e significativa na qualidade global de certos aspectos do comportamento pessoal, como perda de interesse, inatividade, falta de objetivos e retraimento social.
O diagnostico é feito com a sintomatologia perdurando na maior parte do tempo no período minimo de um mês, quando deverá ser apresentado pelo menos um sintoma claro, ou, dois, se não tão claros, entre os mencionados nos quatro primeiros itens ou dois sintomas entre o quinto e o oitavo.
COMORBIDADE
A esquizofrenia é um patologia complexa, crônica e com dificuldades de tratamento próprias, que são exacerbadas quando associadas a quadros de abuso/dependência de substancias, acarretando pior evolução em comparação com pacientes que não apresentam tal comorbidade.
Cerca de 29% dos indivíduos com esquizofrenia possuem problemas relativos ao consumo de substancias psicoativas. tanto os sintomas positivo como os negativos podem ser exacerbados pelo consumo de álcool/drogas.
Várias hipóteses associam o consumo de substancias com o transtorno: pacientes usariam drogas para minimizar os sintomas da doença e os efeitos colaterais dos remédios utilizados; em pacientes suscetíveis, o abuso de substancia propiciaria o surgimento da patologia ainda não desperta; ou por, fim, não existiria relações causal entre estas, mas uma coincidência no surgimento dos dois transtornos por apresentarem semelhanças quando à idade de instalação, a idade e a prevalência.
O álcool, em virtude de suas propriedades, poderia causar o surgimento de sintomas latentes da doença, como reações de raiva, ciume patológico, desconfiança, ideias de referencia. Talvez seja a droga mais utilizada por pacientes crônicos e moradores de rua, em razão das facilidades de obtenção.
Os efeitos da cocaína e das anfetaminas podem, em muito, se assemelhar aos sintomas psicóticos observados na esquizofrenia, como persecutoriedade e alucinações visuais, sendo menos intensos os produzidos pelas anfetaminas. em pacientes esquizofrênicos, o uso destas pode tornar mais frequentes os quadros psicóticos e, nestes casos, o diagnostico deve ser feito somente após seis semanas de abstinência.
A maconha pode estar relacionada com o surgimento de quadros psicóticos em pacientes com alguma suscetibilidade, agindo como fator desencadeante. Em altas doses, proporciona alucinações e delírios paranoides, sintomas maniacos e alterações do humor, gerando um quadro semelhante ao da esquizofrenia ou, quando esta já está presente, piorando sua apresentação.
Na população em geral, o consume de tabaco costuma ser de cerca de 30% e pacientes esquizofrênicos tem prevalência em torno de 74% para este consumo, o que costuma aumentar para 90% se a população avaliada for de pacientes institucionalizados. algumas teorias tentam explicar esse consumo alegando que a nicotina poderia ser responsável pela melhora de alguns efeitos colaterais de medicamentos antipsicóticos. Outra teoria acredita que os sintomas negativos vistos na esquizofrenia, resultantes de menor liberação de dopamina na região do núcleo accumbens, seriam atenuados pela liberação deste neurotransmissor por outras partes do cérebro, quando do consumo de nicotina.
Para prevenir ou medicar sintomas extrapiramidais relacionados com os medicamentos antipsicóticos, é comum a administração de anticolinérgicos, que por suas ações sobre os canais de cálcio, podem produzir sintomatologia psicótica em abusadores dessas substancias.
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