CRACK, QUEM É ESSE USUÁRIO.

CRACK - QUEM É ESSE USUÁRIO
Texto: Ana Claudia Sniesko.
Já não se pode dizer que o crack é consumido apenas pela população carente. O perfil do usuário mudou e está ainda mais abrangente.
       Alerta! Esse é o “estado” em que estamos!
Num país onde um terço da população bebe de forma abusiva, segundo dados recentes da secretaria nacional antidrogas (SENAD).
       O grande problema da estimativa é que o álcool pode se tornar a porta de entrada para substancias mais pesadas. Porém, com o alastramento e a facilidade em se conseguir o crack, a rota de consumo se modificou e muitos usuários já pulam etapas.
       Há, sim, pessoas que se atrevem a experimentar de cara o crack, apesar de o caminho geralmente começar na bebida. Essa precipitação tem a ver com a disponibilidade impressionante dessa droga, afirma Carlos Salgado, psiquiatra e presidente da associação brasileira de estudos do álcool e outras drogas (ABEAD). Cecília Motta, psicóloga clinica da Universidade federal de São Paulo (UNIFESP) e coordenadora do projeto refugiados urbanos, que atende meninos e meninas de rua no centro de São Paulo, SP, acredita que a seqüência de experimentação de drogas é muito pessoal. Tem a ver com o contexto onde a pessoa está inserida. Na rua, por exemplo, a cola se faz muito presente. Hoje, o crack também. Mas nem todo mundo gosta. Há meninos e meninas que experimentaram e não tiveram afinidade, ressalta a especialista.
       Segundo Camila Magalhães Silveira, psiquiatra do Hospital das Clinicas em
São Paulo e coordenadora do centro de informações sobre saúde e álcool (CISA), apontam o estudo realizado pelo pesquisador James Anthony, da universidade de Michigan, EUA, como a mais aceita atualmente. Indivíduos que fazem uso de álcool têm três vezes mais chances de consumir maconha. A partir daí, a probabilidade de utilizar cocaína é 11 vezes superior em relação a quem não fuma maconha. Quanto ao crack, não há mensuração. Mas podemos dizer, pela observação, que passar para a próxima etapa tem muito a ver com a renda do usuário, diz o psiquiatra. “como à cocaína é uma droga cara, mesmo o consumidor mais abastado e muito dependente acaba se rendendo ao crack”, completa.
ESTIMATIVAS IMPRECISAS
O grande número de apreensões demonstra o tamanho do problema, mas as autoridades policiais brasileiras não têm estimativas precisas sobre o volume de crack que circula no país. Segundo o relatório sobre o uso de drogas da organização das ONU, em 2006, foram apreendidas 145 toneladas de crack no país, em 2007, esse total chegou a 578 toneladas.
Apesar de o crack existir há pelo menos 20 anos e ser uma droga de alto poder destrutivo, apenas há quatro anos as policias estaduais começaram a levantar o controle estatístico. Em São Paulo, onde se localiza a Cracolândia, o maior centro de consumo de drogas do país, as apreensões cresceram 370% em 2009, em relação a 2008. Na Bahia, o aumento foi de 140% comparando-se 2007 com 2008. No Paraná, há cinco anos, a policia retirou das ruas 118 mil pedras de crack, enquanto em 2009 as apreensões chegaram a 1,3 milhões de pedras. No Rio Grande do Sul, o problema vem sendo tratado com preocupação intensa, já que se estima que mais de 140 kg de pedra circule pelas ruas da capital gaúcha mensalmente.
PERFIL ABRANGENTE...
E mais amplo do que se pode imaginar.
Com um efeito de apenas oito minutos, mas muito mais estimulante que a cocaína, o crack gera um circulo vicioso com a repetição do uso incontrolado.
“É uma criança, na medida em que a curta duração e o preço baixo induzem a mais uma dose sempre”, explica Salgado. De acordo com o médico, a abrangência da droga chegou a níveis tão altos que definir apenas um nível de usuário tornou-se tarefa impossível. Antes formado por pessoas de baixo poder aquisitivo, socialmente desestruturada, hoje a droga chegou a todas as classes. “Embora a grande massa continue sendo de jovens em situações de vulnerabilidade, já atendo técnicos de enfermagem, colegas de profissão. O perfil, sem dúvida, está se alargando”, afirma o psiquiatra. Um estudo em fase final, conta Salgado, traçará quem é o consumidor de crack no Brasil. 

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