T.R.E. - FERRAMENTA OU ARMA.
FERRAMENTA
OU ARMA?
Rebuscando
o sótão, Carol, de sete anos, encontrou uma antiga roupa de ballet que já não
lhe cabia. Apesar dos protestos da mãe, Carol espremeu-se para entrar em sua
roupa e usou-o o dia todo indiferente a sua aparência absurda.
A
filha mais velha de Mariana, d catorze anos, começou subitamente a ter maus
resultados na escola, agindo de forma desanimadora e arredia em casa, e
escolhendo amigos que se comportavam da mesma maneira. Por diversas vezes,
Mariana encontrou garrafas no quarto da criança. Duas vezes, esta chegou em
casa tropeçando e com o discurso confuso da bebedeira. Quando um vizinho
sugeriu à Mariana que a sua filha poderia ser dependente química, Mariana
encolheu os ombros e disse: “a minha filha não”.
Por
beber demasiadamente, Daniel ficou sem carta e perdeu o trabalho. Após várias
ameaças de divorcio por parte da sua mulher, ele relutantemente, entrou em
tratamento. “Não consigo perceber a razão de todo esse barulho”, disse Daniel
ao seu conselho. “O que eu bebo não é tanto assim. Eu consigo controlar. Não
sou um adicto”.
Que
nevoeiro é este que encobre as pessoas, apagando a sua sensibilidade e
cegando-as em relação a realidade? Que tipo de mudança acontece que se faz com
pessoas razoáveis se transformem em seres irracionais? Como podem eles estar
ali e dizer “isso não é assim”. “quando é?” Este nevoeiro é chamado de negação.
E não é que eles não acreditem na realidade: eles estão envolvidos num processo
que os impede de acreditar nela.
Em
momentos de muito stress, nos fechamos a nossa consciência emocionalmente, por
vezes intelectualmente, e em certas ocasiões fisicamente, explicou Claudia L.
Jewett em children cope with separation and loss. “Um mecanismo embutido em nós
funciona como uma cerca, que separa as informações e que nos evita uma
sobrecarga de informações devastadoras”. Os psicólogos dizem-nos que a negação
é uma defesa consciente ou inconsciente que todos nós usamos para evitar, reduzir
ou prevenir a ansiedade quando somo ameaçados.” Jewel diz ainda: Usamos a
negação para fechar a nossa consciência de coisas que seriam dolorosas demais
para sabermos. Quando a usamos, entramos em curto-circuito, ficamos
entorpecidos. A pessoa que está em negação pode começar a mentir, recusando-se
a admitir a verdade de alguma coisa que fazendo ginastica mental para
transformar algo de ilógico, e defendendo isso com a energia e vigor de um
guerreiro exercitando e protegendo território tribal. Mas esta pessoa não está
a fazer isto só para os outros. Está negando para si própria também.
Noel
Larson, um psicólogo licenciado, definiu negação numa conferencia sobre o abuso
sexual em Minesota. “Negação não é mentir”, disse ele. “É não reconhecer a
realidade”.
A
negação trabalha a um nível muito profundo. Dizemos mentiras a nós mesmos.
Quando alguma consciência, alguma realidade ameaça magoar-nos, enganamo-nos de
modo a acreditar que “não é verdade”.
Que
arestas da vida são estas que nos atiram para esta auto ilusão temporária? As
pessoas podem negar sentimentos, pensamentos, acontecimentos, mudanças,
situações, problemas, doenças e até a própria morte. Negamos o tangível e o
intangível. As pessoas negam mais ou menos tudo o que pode ser negado – mas o
que normalmente negamos é as nossas perdas, o que perdemos ou suspeitamos que
fosse perder algo de importante para nós.
Esta
perda pode ser tão pequena como uma nota de cinco dólares ou tão grande como a
nossa saúde. As pessoas perdem todo o tipo de coisas importantes – amor, seres
amados, autoestima, fé em Deus, confiança, sonhos, trabalhos, saúde, dinheiro,
posses, independência e até dependência. As pessoas podem perder coisas que se
tornaram importantes para si, mas que os outros dificilmente veem como perdas –
como relações pouco saudáveis com pessoas ou químicos.
Todo
o tipo de perda obriga as pessoas a usar a negação. Quanto tempo e até que
ponto usará a negação. Quanto tempo e até que ponto usará a negação, varia.
Podemos ter um segundo de espanto e descredito. Podemos resistir à realidade
por minutos, horas, dias ou meses. Ou podemos passar anos a tropeçar numa nuvem
negra.
Por
vezes, a negação pode ser usada para fazer o que alguns consideram como algo de
heroico e positivo. Inconscientes a sua dor, alguns jogadores profissionais de
futebol tem – ossos partidos – atravessando campos correndo e marcando gols.
Mães doentes se esquecem da sua doença para poderem tomar conta dos filhos
pequenos. Podem lembrar-se da historia daquele homem de negócios que, tendo ficado
ferido num acidente aéreo, não parou de mergulhar num rio gelado para salvar
passageiros até que finalmente morreu das suas feridas de exaustão.
A
negação é uma coisa seria. Quando os dependentes químicos negam a sua doença,
continuam usando até a morte. Os dependentes químicos negam o seu problema, e
ficam mais doentes. Os co-dependentes de alcoólicos e de outros dependetes
químicos negam que tenham sido afetados pela doença e podem continuar a sofrer
e a fazer os outros sofrerem enquanto estão em negação.
O
problema aqui é doloroso e óbvio. Uma pessoa que nega a realidade não está
admitindo e nem resolvendo o problema. A negação, enquanto usada, elimina a
possibilidade de mudança.
Somos
ao mesmo tempo seres fortes e fracos. Temos uma grande capacidade de tolerar e
de suportar a mudança, a dor e a perda. Surpreendentemente, pudemos até crescer
através destas experiências e tornamo-nos seres mais maduros, sensíveis e
carinhosos. Mas em principio, quando enfrentamos uma perda, muitos de nós
precisamos dizer: Não isto não pode ser verdade. Isto não pode estar me
acontecendo. A negação é o amortecedor da alma.
Isto
é uma reação normal, natural e instintiva a perda. É uma ferramenta, alguns
dizem que dada por Deus, que usamos para lidar com a dor ou com os problemas,
não, lidando com os problemas e fatos, até estarmos prontos e preparados para
lidar com eles. Alguns de nós precisamos de um pouco mais de tempo e de um
pouco mais de ajuda do que o outro até estarem prontos. Não será aceitação
melhor?, Podemos perguntar. Não seria melhor uma pessoa ser obrigada a ver as
coisas realisticamente? Estas perguntas
tem razão de ser. Sim, a aceitação é melhor e a confrontação assim como a
intervenção, quando são usadas apropriadamente e com carinho, se tornam boas
ferramentas terapêuticas. Isto não é dito para encorajar as pessoas a escolher
ou a continuarem a estar em negação, mas podemos querer nos lembrar de que
paradoxalmente a negação pode ser frequente o primeiro passo em direção a
aceitação.
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