DEPENDENTES DE CRACK VEEM NA IBOGAINA UMA LUZ NO FIM DO TUNEL

Dependentes de crack aderem a  ibogaina para cura do vício

Eles dizem ter se livrado do vício após tratamentos em clínicas de SP. 



Desesperados para se livrar do crack, dependentes químicos e familiares estão buscando o tratamento alternativo da ibogaina . A dose, única, custa em media R$ 7 mil e não requer a internação do paciente. Apesar da falta de comprovação científica e dos riscos existentes de ministrar substância sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os viciados em drogas pesadas, como cocaína e crack, recorrem ao uso desse fitoterápico, que seria capaz de eliminar a vontade de usar drogas e a síndrome de abstinência (fissura). 

Relatos obtidos chegam a atribuir à ibogaina o poder de ‘cura’, de ‘renascimento’, de ‘apagar o passado’. “É uma sensação deliciosa acordar sem a menor vontade de usar droga, sem medo da recaída. A vontade simplesmente apagou-se da minha mente”, comemora o dono de bancas de jornais Wagner do Patrocínio, de 43 anos. Em função do envolvimento com o crack, Wagner caiu na sarjeta – usava até 20 pedras por dia. Ele passou um ano internado, em duas clínicas mas continuou com recaídas. 
Há três meses, Wagner aceitou experimentar a iboga por influência da mulher, Ângela Chaves, que descobriu a novidade em SP. “Tomei uma quantidade estipulada pela equipe após ser examinado. Na hora, é preciso deitar porque a gente perde o jogo das pernas. Depois, começa a ‘ver’ um monte de cenas ruins. 
A sensação dura umas cinco horas. Depois, você toma a segunda dose. Os pensamentos ruins somem e vêm coisas boas, revela ele, que recomendou o tratamento ao colega João Paulo Barbosa Neto, de 34 anos “Voltei a ter vida social com minha mulher e minha filhinha”, diz Wagner. 
O psiquiatra Dartiu Xavier, diretor do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes de Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), aplicou a dose de iboga a 75 voluntários. Do total, 51% dos pacientes conseguiram largar a dependência química. “A taxa de sucesso é alta. Chega a ser 10 vezes maior em relação à média de 5% de recuperação registrada nas internações em comunidades terapêuticas”, compara o psiquiatra. 
 O psiquiatra deu entrada no Comitê de Ética da Unifesp com protocolo de estudo científico, inédito no país, na tentativa de comprovar a eficácia do uso da iboga no controle da dependência química em álcool e drogas. Caso seja aprovado, o ensaio clínico deverá comparar a reação dos viciados em crack, divididos no grupo que vai ingerir placebo e no outro, que receberá a fórmula original. “Mas os resultados serão a médio prazo”, alerta o pesquisador. Não há previsão de que, quando finalizados os trabalhos, a iboga possa ter autorização para ser usada como medicação controlada no Brasil.
Segundo a Anvisa, não há nenhum medicamento registrado no Brasil com o princípio ativo ibogaína. Dessa forma, a atribuição de alegações terapêuticas a este produto é ilegal, já que não há essa comprovação no Brasil. Entretanto, é legítima a importação de medicamentos sem registro no País, desde que para uso apenas pessoal e amparada pela prescrição de um médico que se torna o responsável pelo uso do produto.

 “Por uma brecha na lei brasileira, consigo trabalhar com a iboga, afirma o psicanalista clínico Gadyro Nakaya, que acredita no potencial de cura da planta."
Ex-dependente químico de heroína, Nakaya diz ter se submetido a 40 internações no passado e que só conseguiu se livrar do vício após conhecer a substância. Ele garante que, em quatro anos, já “ibogou” centenas de pessoas em SP, inclusive artistas de tevê e músicos. “Acolhi um casal que passou a morar aqui comigo há um ano. Eles trabalham como caseiros do sítio. Os dois continuam limpos”, afirma ele. A clínica, registrada inicialmente como um spa, conta com clínico-geral e psiquiatra. 
Antes de tomar a iboga, os pacientes são submetidos a uma bateria de exames, que comprovem abstinência de substâncias tóxicas de, no mínimo, sete dias. Depois, assinam um termo de responsabilidade. Só então são internados para ingerir a dose, que varia de acordo com o caso. O transe varia de 24 a 36 horas. A compulsão por drogas cessa ao final da “viagem”.     
O tratamento dura cinco dias, com índice de 70% a 80% de recuperação. “A iboga corta a vontade de usar a droga, mas a pessoa precisa querer deixar a vida de viciado”.

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