MODELO DE TRATAMENTO- CADERNO 6 - VERGONHA
“Descubra seu
próprio poder!”
Introdução.
Compreender os nossos sentimentos não é tarefa. A maioria de nós
já sentiu o peso da vergonha a determinada altura, alguns de nós
fomos desonestos em relação aos nossos sentimentos – para conosco
e com os outros – por meio de sermos descobertos ou de que os
outros ficassem a saber demasiado sobre nós. Em recuperação, os
sentimentos dolorosos vem frequentemente a superficie, e quando
deixar assim sentimo-nos mal. Palavras como infeliz ou triste podem
dar uma boa descrição desses sentimentos dolorosos. Por vezes não
só nos sentimos mal, como acreditamos que somos maus. Não só nos
sentimos magoados, como acreditamos que há de errado no mais
profundo do nosso ser. Acreditamos que há algo de errado não só
com o nosso uso de álcool ou drogas, mas também conosco própios.
Sentimos que algo nos falta, sentimo-nos inadequados e vazios.
Esse sentimento crõnico que nos invade é muitas vezes a vergonha.
O vazio aumenta com o derrotismo e com a necessidade constante de
preenchimento. O vazio da vergonha é uma armadilha em recuperação
que nos impede de nos sentirmos satisfeitos e que faz com que o fato
de não usarmos drogas, álcool, comida ou outros comportamentos
compulsivos, pareça impossível.
De onde vem a vergonha
Para maioria de nós a vergonha
tem as suas raizés na
nossa infancia. Há famílias que tem problemas da adicção e
problemas emocionais e, por isso, muito de nós fomos criados em
famílias doentes que não sabiam corresponder as nossas necessidades
emocionais e muitas vezes físicas. Quando os pais são cronicamente
depressivos ou se debatem com um problema de alcoolismo ou de
adicção, são muitas vezes incapazes de estar à altura das
necessidades emocionais dos seus filhos. Quando as crianças não
veem as suas necessidades emocionais satisfeitas, semtem muitas vezes
vergonha.
A vergonha
é formada quando as necessidades emocionais de uma criança não são
satisfeitos, quando essa criança não é ajudada a crescer como uma
pessoa valida e livre para explorar as suas capacidades, para testar
os seus limites e para aceitar emocionalmente.
Uma família saudável satisfaz naturalmente as necessidades
emocionais de cada um de seus membros. Os filhos são aceitos tal
como são: são amados e respeitados. A individualidade dos membros
da família é mantida. Os pais são livres para serem adultos e os
filhos livres para serem crianças.
A vergonha cresce quando a criança ou o adolescente se sente
abandonado ou desprezado, quando não recebe o carinho necessário
para crescer e se desenvolver, e olhar para si próprio como uma
pessoa válida. Estas crianças ou adolescentes acabam muitas vezes
por ter uma maturação em que os sentimentos de inadequação e de
inutilidade estão profundamente enraizados.
A educação inadequada durante a infância tem diversas formas. Para
alguns de nós era de maneira evidente:
-
Nos batendo ou nos empurrando.
-
Nos obrigando a ter comportamentos sexuais.
-
Nos abandonando durante vários dias.
Para muitos de nós, era sutil e rebuscamente:
-
Nos comparando com irmãos que tinham conseguido tanto.
-
Nos sujeitando a ouvir comentarios depreciativos sobre a nossa masculinidade ou feminilidade.
-
Nos criticando sobre a nossa capacidade de ultrapassar ou de conseguir as coisas sozinhos.
-
Nos criticando sobre o nosso peso ou aspecto.
-
Nos lembrando constantemente dos nossos erros.
-
Nos ameaçando de que tornariamos iguais ao nosso “pai bebado ou malvado”.
As pessoas criadas inadequadamente aprendem em grande parte a estarem
vigilantes quando perto dos outros, não vá alguém descobrir os
seus sentimentos de inadequação. Poderão sentir uma necessidade de
se esconderem, as suas emoções e aos seus pensamentos. Manter
segredos torna-se importante para eles, assim como resistir as
descobertas, para evitar errar. Errar é visto como a maior evidencia
de inutilidade. Um erro não é visto como um acontecimento isolado,
é generalizado para passar a ser a descrição total da pessoa: eu
não sou um erro. A minha vergonha significa que, não só eu me
sinto mal, como acredito que não presto, sou inadequado e inútil.
Este genero de raciocinio promove um ciclo vicioso, em que as
crianças não são valorizadas tornam-se adultos que acreditam não
ter valor. Para esconderem os seus sentimentos de inutilidade, eles
desenvolvem um sistema de defensivo muito rigido. Ninguém pode saber
nada sobre eles. Escondem cautelosamente qualquer pista sobre a sua
inadaptação. Duvidam e negam as suas emoções e deixam exprimir os
sentimentos, de demonstrar afeto, e tornam-se desconfortaveis em
relação a sua sexualidade. Tristeza crônica, apatia e medo de
serem descobertos, tomam o lugar dos sentimentos de confiança e
partilha.
A vergonha e a dependencia de drogas e álcool.
A vergonha pode também começar a aparecer mais tarde. Aqueles de
nós que se debatem com uma adicção a drogas ou álcool, podem se
sentir desesperados com os problemas emocionais a medida que o ciclo
vai aumentando, e as nossas tentativas de levarmos uma vida saudável
e produtiva vão sendo derrotadas. Com a perda da esperança, este
ciclo auto destrutivo só vem salientar os nossos problemas de
comportamento e exagerar os sentimentos de inutilidade.
Comportamentos autodestrutivos
A ellen está a seis meses sem usar álcool ou drogas e no entanto
sente-se completamente dominada por sentimentos crônicos de vazio e
duvida. Sente-se paralisada e não consegue identificar ou falar
sobre seus sentimentos. Teme que a falta de confiança própria seja
completamente óbvia. Deixou de ter os comprimidos e o álcool para
lhe preencherem o vazio.
Para se proteger, ela conta com um mecanismo de defesa rígido, e
promete a si própria que ninguém poderá vir a saber dos seus
sentimentos de inutilidade e de vergonha; ninguém saberá o seu
segredo. Em vez disso esforça-se por se tornar perfeita.
Uma defesa constantemente usada
contra a vergonha. Na verdade, trata-se de um sistema de crença
extremamente rigido, uma
especie de “juiz dentro de nós”, que controla, avalia e critica
o nosso comportamento, pensamentos e sentimentos. Esse juiz interior
exige perfeição, errar é desastroso! Acreditamos que para valermos
alguma coisa temos de ser bem sucedidos em todas as áreas da nossa
vida. Nos convencemos que só um desempenho perfeito compensará os
nossos sentimentos mais intimosde vergonha.
A Ellen está entalada entre
exigências irrealistas: o esforço imparável e impossivel para
conseguir um comportamento perfeito e a sua insistencia em mantes
secretos os seus sentimentos de vergonha. Encontra-se na situação
do perdedor. Embora tenha deixado de usar drogas, a vergonha continua
a motivar comportamentos perfeccionistas que limitam a sua capacidade
de pedir a ajuda de que necessita desesperadamente.
O Jim é perseguido por sentimentos de inadequação. Exteriormente,
projeta a imagem da autoconfiança. No entanto, interiormente
sente-se imcompleto. Toma secretamente uma bebida atrás da outra, se
esforçando inutilmente para vencer sua adicção, preencher os
sentimentos de vázio e acalmar os sentimentos de vergonha. Quanto
mais tentar calar seus sentimentos, mais vázio se sente.
O comportamento autodestrutivo alivia a dor ou nos ajuda a nos
sentirmostemporariamente bem, mas não resolve nenhum dos nossos
problemas.
A adicção de Jim parece, pelo
menos temporariamente, preenche o vazio da vergonha. Mas, tal como
Ellen, que conta com o perfeccionismo para disfarçar a vergonha, ao
beber o Jim não faz mais do que aumentar os seus sentimentos de
inutilidade. O seu alcoolismo alivia a dor que a vergonha lhe traz
mas apenas por um curto espaço de tempo. A Ellen evita os
sentimentos de vergonha e afasta o proposito de procurar ajuda para o
seu caos emocional, mantendo uma fachada rígida de perfeccionismo.
A vergonha e as suas consequências autodestrutivas
a vergonha é um problema emocional. As emoções tornam-se um
problema quando nos impedem de alcançar alguns de nossos objetivos
mais básicos. Para muitos de nós, que estamos construindo um estilo
de vida saudável, implica o desenvolvimento de relações que nos
preenche aos nos deixarmos ser vulneráveis e imperfeitos com aqueles
em quem confiamos, ao mesmo tempo que aceitamos a vulnerabilidade e
imperfeição dos outros. Ser humano é ser falível e menos que
perfeito. Recuperação também significa participar-se ativamente no
mundo do trabalho, tirar prazer em viver o dia-a-dia e, é claro,
manter-se em abstinente. Quando um sentimento como a vergonha nos
domina, então temos problemas emocionais.
A vergonha é portanto um
obstaculo a aprendizagem das tarefas básicas da vida. Sensações
crônicas de vazio podem minar os esforços par nos sentirmos felizes
e podem fornecer uma desculpa para uma recaída. A
vergonha mantém-nos isolados e separados dos outros, sabotando assim
as nossas necessidades de intimidade e relações com o significado.
Interfere com a nossa capacidade para nos relacionarmos com os outros
como pessoas reais e imperfeitas.
A vergonha é um problema especial para as pessoas em recuperação
da adicção e de problemas emocionais. Se tivermos sentimentos não
identificados de vergonha com os quais não lidamos, estamos em risco
de recair. De fato, o modo como nos comportamos em recuperação.
Recuperação é o nosso processo que nos devolve a uma vida mais
realizada, o que envolve frequentemente menos sofrimento emocional e
liberdade do comportamento adictivo.
Caracteristicas da vergonha |
Caracteristicas da recuperação |
Procura isolamento social, e distanciamento emocional. |
Participa do processo social de recuperação. |
Falta de confiança em si mesmo |
Confiança nas suas opiniões e sentimentos
|
Sente e espontaneidade reprimida |
Sente alegria |
Repete os mesmos erros |
Aprende com a experiência |
Baseia-se em comportamentos rígidos |
Aborda os problemas com flexibilidade. |
Como a vergonha nos faz sentir mal e tem como resultado o nosso
comportamento autodestrutivo, é importante identificar a vergonha
como parte do nosso processo de recuperação.
Vergonha contra culpa.
A vergonha é diferente da culpa. A culpa é um sentimento de reação
contra um mau comportamento ou uma omissão de um comportamento
esperado. Por exemplo: um adolescente pode sentir-se culpado por ter
agido de forma a magoar outras pessoas, ou um pai pode sentir-se
culpado por ter negligenciado seu filho. Aculpa está geralmente
limitada a um acontecimento especifico, não envolve uma avaliação
do nosso valor como pessoa. Na verdade, os sentimentos de culpa são
muitas vezes saudáveis. Podem ser sinal de que falhamos em alguma
coisa ou que precisamos de olhar melhor para o nosso comportamento.
Podemos aprender a olhar para a culpa e a não temer. Ajuda a lembrar
que somos seres humanos imperfeitos e que temos valor, podendo
aprender com os nossos erros e tornar-nos pessoas que funcionam em
pleno.
Por outro lado, os sentimentos de
vergonha envolvem geralmente a nossa valorização como pessoas.
A vergonha não é uma simples reação a um acontecimento
especifico; mas em suma uma resposta emocional adquirida que
permanece seja qual for a quantidade da nossa atuação.
Quando nos sentimos com vergonha,
temos mais possibilidad de nos isolar e de nos distanciarmos
emocionalmente; tornamo-nos menos espontâneos e mais infelizes. Os
comportamentos derrotistas , r
As boas noticias
podemos mudar os sentimentos de vergonha! Assim como a vergonha se
aprende, tambem pode ser desaprendida e substituida por outros
comportamentos, mais positivos. Podemos reduzir os sentimentos da
vergonha compreendendo as suas raizes, reconhecendo que temos
vergonha e alterando conscientemente os comportamentos relacionados
com ela.
As convicções em relação a nós próprios, quer tenham sido
adquiridas na infancia quer mais tarde, tendem a persistir mesmo
quando a nossa adicção parou.
Em crianças, temos tendencia a
acreditar naquilo que os adultos nos ensinam, especificamente quando
confiamos nesses adultos, tais como nos pais, padres ou professores.
Em adolescentes, modificamos as nossas atitudes baseando-nos nas
nossas experiencias. Assim se formos confrontados com fracassos
constantes, criticas e com nossos novos comportamentos de adictos,
aprendemos depressa a desvalorizar aquilo que somos. As crianças e
os adolescentes, pela natureza da sua juventude, tem falta da
capacidade do conhecimento e da estabilidade emocional para
compreender a complexidade das suas atitudes e sentimentos. Como
consequencia disto, não somos responsáveis pelo modo como fomos
tratados no passado nem como aprendemos muito cedo a nos sentirmos.
Essencialmente, não somos responsáveis pela nossa infância. Ela é
por natureza, caracterizada pela impotência.
O mesmo se dá obsessões
compulsiva. Alguns de nós passamos por obsessões e comportamentos
compulsivos que invadiam toda a nossa personalidade: outros passaram
pela experiencia do descontrole em relação a certos comportamentos
tais como a bebida ou o jogo. Todos nós enfrentamos e sentimos a
destruição que vem da nossa incapacidade para modificar o nosso
comportamento. Por si só, as resoluções firmes e a força de
vontade só nos levaram a tristes insucessos. Embora quisessemos que
a dor resultante do nosso comportamento derrotista parasse, éramos
impotentes. Tal como as crianças, éramos impotentes em relação as
nossas tentativas para controlar as complexidades das nossas
atitudes, sentimentos e comportamentos adictivos.
Só quando aceitamos a nossa impotencia enquanto adultos é que
podemos recuperar. Em recuperação. Ficamos mais conscientes dos
nossos sentimentos e podemos tomar decisões conscientes em relação
ao modo como nos comportamos e sentimos. A vergonha perpetua-se nas
nossas convicções. Não importa quando, como e onde aprendemos,
estas atitudes baseadas na vergonha fazem agora parte de nós. O juiz
interior que representa as nossas tentativas perfeccionistas de
controle pode agora ser enfrentado, diminuído e, eventualmente,
destronado!
As leis do juiz não são absolutas e podem ser vencida com uma
oposição persistente baseada na lógica e na razão.
Aprenda os
principios do T.R.E.
apesar
da vergonha ter as suas raizes no passado precisamos de lidar com ela
no presente. Um dos métodos para atacar as atitudes baseadas na
vergonha é utilizar uma abordagem baseada na autoajuda: terapia
racional emotiva (TRE), que basea-se na primissa que os pensamentos
provocam sentimentos. Muito de nós pensamos que os nossos
sentimentos são reações automáticas e acontecimentos isolados.
Falamos muitas vezes dos sentimentos desagradáveis como se alguém
ou algo fosse responsável por eles: “ela pôs-me furiosa”.
Muitos de nós acreditam que os acontecimentos em “A” causam as
emoções em “B”.
A (acontecimento)
B (sentimentos)
No
entanto, os sentimentos não são automáticos nem necessariamente
similares ou compativeis com a resposta a acontecimentos semelhantes.
Por exemplo, um acontecimento (A), tal como receber um conselho em
grupo pode resultar numsem número de sentimentos diferentes (B), que
podem ir desde sentir raiva a sentir tristeza. Portanto, os
sentimentos variam de indivíduo para indivíduo e não estão
automaticamente relacionados com os acontecimentos. Como tal, as
emoções não são diretamente causados por acontecimentos. A TRE
diz-nos que podemos escolher o modo como interpretamos ou
o que pensamos de um acontecimento em B, que por sua vez causa um
sentimento em C.
A
(acontecimentos) B (pensamentos)
C (sentimentos)
A historia de Ellen
apesar
de estar limpa há seis meses, ellen tem sido martirizada por
pesadelos constantes, noites sem dormir e problemas com relações.
Procurou apoio num grupo terapêutico de mulheres. Se por um lado
teve coragem de pedir ajuda por outro lado sentiu-se muda e incapaz
de partilhar os seus sentimentos. Ellen confia há tanto tempo no seu
perfeccionismo defensivo, mantendo as pessoas a distância, que
torna-se agora dificil
deixa-las aproximarem-se.
Ao
rever acontecimentos da sua infancia, ellen lembra a historia, há
muito reprimida, da sua família, historia essa que envolve
sentimentos dolorosos e abuso físico. Ambos os pais de Ellen foram
alcoólicos. Ellen está cheia de vergonha e, consequentemente, tem o
pavor de contar a sua história. Ao pensar no seu passado, Ellen diz
a ella própria: - devia ter sido capaz de parar com o abuso. Não
devia ter aguentado tanto tempo. Que
criança tão antipática que eu devo ter sido para merecer este
tratamento. Em que adulto horrivel me fui tornar-se ninguém pode
saber.
A B
C D
(acontecimento) (pensamento) (sentimento)
(consequencias/comportamento)
Em
consequência da sua vergonha, Ellen tenta isolar-se do grupo. O seu
comportamento é autodestruista, já que elimina o potencial apoio
que necessita para enfrentar o seu segredo. O conjunto de valores de
Ellen em B.caracteriza-se por exigencias irrealistas combinadas com
uma tendencia para denegrir a sua pessoa. Os
“devo” e os “tenho de ” de Ellen traduzem as suas exigências
irrealistas de que deveria ter tido mais poder e controle. Deprecia o
seu valor culpando-se a si própria e menosprezando-se como pessoa.
Ellen interpreta os acontecimentos de vergonha. O seu juiz interior
formula esperanças rígidas em relação a sua atuação e
envergonha-a quando ela se torna incapaz de alcançar esses objetivos
inatingíveis.
Felizmente para Ellen, dois dos seus companheiros ajudaram-na a
abrir-se ao partilharem as suas próprias historias com o grupo. Na
verdade, ellen aprendeu a combater a sua lógica baseadana vergonha
(D), ao levantar questões tais com quem? O que? E porquê?.
A - pensamento |
B sentimentos |
C criticas |
Devia ter parado com o abuso |
vergonha |
Quem diz que eu devia ter parado com o abuso? Eu era uma
criança, não tinha mais poder sobre os meus pais do que eles
tinham sobre a bebida. |
Não deveria ter tolerado |
vergonha |
Que escolhas é que eu tinha? Não somos todos impotentes em
crianças? Não sou responsável pelo comportamento dos meus pais.
Pare de fazer exigencias irrealistas! |
Que criança tão antipatica devo ter sido |
vergonha |
Que provas tenho de que fui uma criança antipatica? Não são
todas as crianças simpáticas e merecedoras? Não são todas
merecedoras de amor e carinho? |
Em que adulto horrivel me fui tornar |
vergonha |
Só por que fui criticada no passado, não é razão para me
criticar agora. Claro que não sou perfeita, mas quem o é? Não
somos todos seres humanos faliveis e merecedores? |
Ninguém pode sabe-lo |
vergonha |
Porque? Não sou responsavel pela minha infância. Não são os
meus pais responsáveis pelo seu comportamento? Por terem abusado
de mim no passado, não prova que agora seja um adulto sem valor. |
A
medida que a logica de ellen muda, fica livre para identificar os
seus objetivos. Apesar do vazio e da vergonha não desaparecem de um
dia para o outro, sente-se cada vez mais bem disposta e menos
preocupada. Estabeleceu o objetivo de viver uma vida produtiva,
saudável, com o menos possível de vergonha. Para ajudar a alcançar
esses objetivos, a Ellen continua a participar no grupo terapêutico
de
mulheres, e começou uma terapia individual. Entretanto, a Ellen
renova a sua emergente atitude de respeito por si própria com uma
armação:
sou Ellen, uma pessoa falível e com valor, merecedora de
respeito por mim própria, e do respeito dos outros. Hoje vou-me
considerar uma pessoa com valor e merecedora.
Como o juiz interior de Ellen não é facilmente combatido, elaborou
um plano concreto para ajudar a pôr em pratica a sua nova afirmação
a uma atividade diária frequente. Como bebe 4 refrescos por dia,
decidiu usar o seu primeiro gole como sinal de que está na hora de
repetir a sua afirmação positiva. Uma vez terminada a sua
afirmação, bebe o resto do refresco com “recompensa” pela sua
nova atitude.
Mais tarde, Ellen fez uma lista de atividades para atacar a vergonha
com a ajuda do seu terapeuta de grupo. Se por um lado ela compreende
algumas atitudes baseadas na vergonha, também compreende que os seus
sentimentos crônicos de vazio podem facilmente põ-la em risco de
cair de novo nos seus velhos comportamentos autodestrutivos. Embora
se sinta cada vez melhor, sabe que os problemas relacionados com a
vergonha não estão completamente resolvidos.
A Ellen também decidiu continuar a sua aprendizagem sobre a
vergonha. Decidiu fazer um plano especial de leitura e encontrou um
terapeuta especializado em adicção e abuso infantil. Planeia
continuar seu trabalho diário de autoafirmação. Como pretende
continuar a frequentar o grupo de terapia de mulheres, decidiu fazer
pelo menos mais dois trabalhos relacionados com a TRE, afim de ser
capaz de discutir os seus problemas relacionados com a vergonha, com
o resto do grupo.
É obvio que a vergonha de Ellen tem origem nas experiencias da
infancia e as suas atitudes exageradas em relação a essas
experiencias e a si própria poderiam ter impedido o seu progresso.
Mas, ao contestar a sua logica, a Ellen tornou-se capaz de proceder
as mudanças necessárias.
A história do Jim.
Em
contraste, a vergonha de Jim não tem origem na sua infância, mas
está antes diretamente relacionada com as consequências
autodestrutivas da adicção. Quanto mais bebe, menos se valoriza.
Embora seesforce por controlar o que bebe, os esforços resultam
sempre em fracassos. Segundo Jim, deveria ser capaz de controlar o
que bebe. O Jim acredita firmemente que é mau e que não tem
qualquer valor porque não consegue parar ou reduzir a bebida.
Jim não pode prever quandovão haver intervalos de abstinência ou
intoxicações. Começa a ver-se como um degenerado moral. Pensa que
se tivesse qualquer valor ou dignidade não se degradaria a ponto de
se encontrar permanentemente intoxicado e de sofrer humilhações
públicas. A medida que a sua vergonha aumenta, vai-se afastando cada
vez mais da família e dos amigos. Isolado bebeainda mais.
A convicção de Jim de que não presta, baseai-se na exigencia que
faz a si próprio de que deveria ser capaz de controlar a bebida. O
juiz interior exige força de vontade e autodominio e condena o seu
valor quando Jim se torna incapaz de controlar o seu comportamento. A
vergonha e o isolamento de Jim são obstaculos a sua recuperação –
afasta de si todos os que poderiam ajudar.
A
B C
acontecimento pensamentos sentimentos
Beber continuamente |
vergonha |
Deveria ser capaz de controlar a bebida |
Isolamento social, beber continuamente |
É horrivel não conseguir aguentar uma bebida |
|
Não passo de uma pessoa má |
|
A família e os amigos de Jim não desistiram. Através do seu apoio
e compreesão, Jim finalmente decidiu-se a entrar num tratamento. No
entanto, o juiz interior continuava a exigir o controle total. Jim
agarrava-se a exigencia irrealista de que deveria ser capaz de
controlar a bebida. Através dos esforços concertados dos seus
companheiros, Jim começou a questionar a sua lógica em “D”.
B
C
D
pensamentos sentimentos
critica
Deveria ser absolutamente capaz de controlar o que bebo. |
vergonha |
Quem diz que deveria ser capaz de controlar a bebida? Não é verdade que o álcoolismo é uma doença? A doença não tem a ver com a força de vontade. |
É horrivel não ser capaz de aguentar uma bebida |
vergonha |
Claro que não consigo aguentar uma bebida. Para mim não se
trata de controle voluntario. Uma vez que bebe um copo paro quando
acabar a garrafa. |
Não passo de uma pessoa má |
vergonha |
Tenho de parar de “exagerar”! Tenho uma doença má, não
sou uma pessoa má. |
Á medida que as suas convicções em relação ao alcoolismo foram
mudando, ele foi-se tornando mais consciente das exigencias que
colocava a si pŕoprio. Ao aceitar a sua importância perante o
álcool, o Jim passoi também a aceitar a sua condição humana com
tudo o que ela implica de capacidade e limitações.
A vergonha de Jim tem origem na convicção de que preciso de
controlar o que é incontrolavél. Para Jim, reconhecer as suas
limitações como ser humano é uma tarefa em curso, já não luta
para ser perfeito.
Começa a agir
a medida eu que Jim ia progredindo o seu conselheiro deu-lhe uma
serie de recomendações uteis. A fim de reduzir a sua vergonha, Jim
precisava de se tornar mais flexível em relação as expectativas
que tinha dele próprio e dos outros. Desde que Jim se passou a
aceitar como um ser humano digno e falível, deixou de haver razão
para continuar a dar ouvidos ao seu juiz interior.
A sua falta de controle ou a impotência deixaram de ser ameaças ao
seu valor como pessoa e passaram simplesmente a fazer parte das
caracteristicas de um ser humano. Quaisquer esforços para controlar
o incontrolavél só o levariam ao fracasso, e muitas vezes a auto
recriminação e a vergonha. Tenho isto em mente, o Jim concordou em
praticar as seguintes atividades.
Encontrar um grupo de apoio. O Jim descobriu a necessidade de
frequentar um grupo de apoio que o ajudasse a identificar parte do
seu pensamento baseado na vergonha, bem como o seu comportamento
derrotista. Chegou à conclusão que as suas atitudes continham
muitas vezes uma necessidade de controlar que minavam a aceitação
do seu alcoolismo. Ele concordou frequentar pelo menos dois grupos
diferentes. AA e um grupo de terapias para homens.
Fazer um trabalho de TRE. Antes de completar o seu tratamento, Jim
fez um trabalho suplementar de TRE, para desafiar a sua mania de
exigência, aquilo a que o seu conselheiro se referia como dizer
“devo” demais. Jim aprendeu que palavras como devo e tenho
representam muitas vezes exigências irrealistas, e sáo palavras
chaves que precisam ser questionadas ao mudar as suas atitudes. Com
isto em mente, Jim começou a fazer o seu trabalho de TRE sobre
sentimentos de vergonha relacionados com o seu casamento.
Jim escreveu a palavra “vergonha” como um problema emocional em
“C” (sentimentos). Jim sabia que os sentimentos de vergonha
estavam intimamente ligados com o isolamento social e a bebida. Por
baixo de “A” (acontecimento), identificou um acontecimento
recente que o tornou consciente dos seus sentimentos de vergonha –
lembrou-se que o ultimo encontro com a sua mulher, sobre os
pensamentos que teve durante o encontro com a sua mulher, e
escreveu-os por baixo de “B” (pensamentos).
-
Devia ser capaz de alterar os sentimentos da minha mulher.
-
É horrível ve-lá chorar.
-
Não devia ter me tornado alcoólatra.
-
Sou uma pessoa horrível.
Ao compreender as ferramentas básicas da TRE, Jim questionou a sua
lógica ao escrever uma crítica ao seu pensamento por baixo de “D”
(discussão).
-
Quem diz que eu deveria ser capaz de alterar os sentimentos da minha mulher? Não posso controlar as emoções dela.
-
É desagradável vê-la chorar e gostava que ela não tivesse que passar por isto. Talvez as lagrimas lhe tragam algum alivio emocional.
-
O alcoolismo é uma doença, não é uma questão de força de vontade. Para de dizer “devo” o tempo todo!
-
Sou um ser humano falível e digno. Tenho lutado contra esta doença horrível. Não sou uma pessoa má.
Ao questionar o seu próprio pensamento, o Jim formulou um objetivo
que o ajudasse a guiar o seu comportamento (E). Jim reconheceu a sua
necessidade de dar apoio emocional a mulher ao mesmo tempo que
teentava reduzir a sua vergonha. Assim, fez uma lista das seguintes
ações construtivas que devia efetuar para alcançar o seu objetivo:
-
falar sobre a minha preocupação e apoio com a minha mulher.
-
Convida-la a participar num “workshop” de comunicação entre casais.
-
Apoiar o envolvimento da minha mulher num grupo de ajuda.
-
Fazer mais dois trabalhos de TRE para identificar problemas espemacificos relacionados com a vergonha.
O Jim aprendeu depressa que, ao desafiar conscientemente as suas
convicções e ao modificar os seus comportamentos, tornar-se capaz
de reduzir os sentimentos de vergonha, ao mesmo tempo que ofereceria
apoio emocional a sua mulher. Ao aceitar a sua impotência sobre o
álcool também reconheceuas suas outras limitações. Era com
certeza uma pessoa falível mas não era certamente uma pessoa má ou
horrivel. Jim veio a acreditar que é humano cometer erros, ter um
controle limitado sobre a sua vida e ter uma doença com o
álcoolismo. Ao aceitar a sua humanidade, o Jim deu um primeiro passo
fundamental para os alicerces da sua recuperação, ao mesmo tempo
que se começava a libertar da auto recriminação, das exigências
irrealistas e dos sentimentos de vergonha.
Resumindo
seguem-se seis coisas importantes para nos lembrarmos sobre a
vergonha:
1. a vergonha é um sentimento penetrante para nos lembrarmos sobre a
vergonha:
é uma simples reação ao nosso mau comportamento. A vergonha é,
muitas vezes um sentimento crônico de inadequação, de vazio e de
dúvida em relação a nós própios.
2. a vergonha tem muitas vezes origem na infáncia e na adolescência,
vinda de um sistema familiar doentio. A criança ou adolescente
acredita que as críticas que a família lhes faz são plenamente
justificadas e cresce acreditando que ele ou ela não tem qualquer
valor ou utilidade.
Somos impotentes em relação aquilo que aprendemos em crianças.
3. a vergonha pode também ser uma consequência da adicção. A
incapacidade de parar ou de controlar um comportamento aditivo
leva-nos frequentemente a desvalorização pessoal.
4. os sentimentos intensos de vergonha resultam em comportamentos
derrotistas tais como, afastamento social, isolamento e em
comportamentos adictivos, tais como não parar de comer
excessivamente. Portanto, a vergonha representa um fator de risco
para a recaída.
5. a vergonha envolve geralemente um juiz interior que nos exige um
comportamento rígido e que nos envergonha quando não conseguimos
cumprir essas exigências. A vergonha balança muitas vezes entre
expectativas perfeccionistas e a autocondenação. O Juiz interior
representa de fato o nosso conjunto de crenças.
6. Já que a vergonha é inventada e aprendi, também pode ser
“desinventada” e desaprendida.
Usando os recursos ao nosso dispor que incluem as ferramentas básicas
da TRE, podemos reduzir com sucesso os nossos sentimentos de vergonha
– isto é, sentir vergonha menos intensamente e com menos
frequência.
UM TRABALHO DE TRE
agora é sua vez! Tal como com qualquer comportamento novo, você
precisa de praticar a redução dos seus sentimentos de vergonha.
Asua tarefa é acabar um trabalho de TRE e, para isso, talvez precise
de um bloco de notas. Eis algumas sugestões a considerar quando
fizer o seu trabalho:
Identifique a vergonha – Comece primeiro por identificar
o sentimento de vergonha que o preocupa; observe os comportamentos
derrotistas geralmente relacionados com a vergonha; seja especifico;
pense num exemplo retirado da sua experiência.
Identifique o acontecimento – em seguida identifique o
acontecimento motivador. Pense numa ocasião em que uma ação
especifica tenha provocado um sentimento intenso de vergonha. Pode
ter sido a informação (feedback) que lhe deram durante uma terapia
de grupo ou um comentário feito pelo seu parceiro. Em qualquer dos
casos seja o mais objetivo, concreto e especifico possível, ao
identificar o acontecimento. (A).
Identifique os seus pensamentos e sentimentos – A próxima
tarefa é identificar os seus pensamentos (B), reveja os exemplos da
Ellen e do Jim. Geralmente, os sentimentos de vergonha © são
despoletados por exigencias irrealistas, tendencia para exagerar o
lado negativo e desvalorização pessoal.
Critique o seu pensamento. Questione a sua logica (D). aqui,
critique os seus pensamentos, conteste a objetividade para esta
situação. Claro que prefere sentir vergonha menos vezes e menos
intensamente. É melhor sentir pena e remorso do que vergonha e
incerteza. Reduzira vergonha é sem duvida um objetivo importante
para se atingir uma verdadeira recuperação. Frequentemente, este
objetivo ajuda a orientar a nossa ação construtiva.
Começar a agir – faça uma lista de todas as ações
construtivas que podia tomar para alcançar os seus objetivos (E).
seja o mais especifico e concreto possível. Numere a lista e
mantenha-a simples, concentrando na ação.
Agora que acabou um exercicio escrito de TRE asua próxima tarefa
é partilhar este trabalho com outros (seu terapeuta, por exemplo).
Procure mais ajuda e opiniões em relação ao seu pensamento (B).
pergunte aos seus companheiros se falhou em alguma coisa. Talvez
tenham algumas ideias que o ajudem a questionar a sua logica (D).
talvez algum deles tenha uma ação a acrescentar a lista que você
fez em “E”. use o seu trabalho de TRE como catalizador para
discutir os seus sentimentos, as suas atitudes baseadas na vergonha e
as suas ideias alternativas. Quanto mais envolver outras pessoas no
processo mais rapidamenteaprenderá maneiras de reduzir os seus
sentimentos de vergonha.
Não se esqueça de utilizar outros métodos de auto ajuda para
atacar os sentimentos de vergonha. Lembre-se que Ellen usava
afirmações para reforçar as suas atitudes de respeito por sí
própria. O Jim, por exemplo, identificava as situações em que
detinha o controle, e que bloqueavam a aceitação do seu alcoolismo
e humanidade. Ambos se deram ao trabalho de informar os respectivos
padrinhos do que a vergonha era um favor de risco para recair.
Não desista facilmente. Provavelmente tem muitos anos de pratica
de comportamentos baseados na vergonha. Terá que praticar bastante
para encontrar novos comportamentos que o ajudem a supera-los. Há
uma serie de recursos que o podem ajudar: grupos de auto ajuda,
terapias individual e de grupo, aconselhamento a longo prazo e grupos
de prevenção a recaida. Alterando as suas atitudes e modificando os
seus comportamentos, pode reduzir os sentimentos de vergonha,
diminuir o risco de recaida e abrir-se as alegrias de uma vida feliz
e saudável.
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